terça-feira, 8 de abril de 2008

Relato de uma aposentado à espera de socorro - Jorge Villarinho

Niterói, 05 de abril de 2008.

Relato de um aposentado à espera de socorro.

"Analisando, este mês, o benefício recebido do INSS e verificando o reajuste concedido, fiquei deveras preocupado com o meu futuro, melhor dizendo, com o meu sustento, pois considerando este reajuste e dos anos anteriores, pude perceber que uma tragédia se anuncia para os aposentados e pensionistas que ganham acima de um salário. Estamos condenados à, daqui a alguns anos, ganharmos nada mais nada menos que o piso salarial. O que considero um desrespeito com todos aqueles que, por longos anos, sustentaram este Instituto com descontos em seus vencimentos ou com contribuições autônomas, baseadas em números de salários que não correspondem aos ganhos atuais. Por conta de tamanha insensibilidade e descaso, bateu em mim sentimentos dolorosos como de abandono, de instabilidade, de desespero e de medo. Não sei como viver se continuar a perder vertiginosamente o meu poder de compra. Neste momento, por conta de todas essas perdas preciso da ajuda de meus filhos para cumprir minhas obrigações em relação às minhas despesas que aumentam a cada dia. Principalmente com medicamentos, o que é previsível para um cidadão idoso. Como agravante, em particular, sofri uma cirurgia cardíaca que me obriga a constantes visitas à médicos, realizações de exames periódicos e consumo de medicamentos regulares e específicos, o que não deve ser diferente para a grande maioria. Portanto ou por tudo isso, acho desumano impor ao aposentado esta condição de vulnerabilidade justamente por se tratar de um grupo indefeso sem poder algum de barganha. Não é justo que me condenem a virar um pedinte se o meu histórico não faz jus a esta condição.

Não fiquei surpreso com o reajuste, pois o mesmo havia sido anunciado a algum tempo. Mas quando se está diante de uma realidade cruel sem que haja sequer por parte das autoridades, com raríssimas exceções, como os Senadores Mário Couto e Paulo Paim, uma sinalização de comprometimento de recomposição dos nossos benefícios, penso no efeito desastroso de tudo isso sobre nossas vidas.

Não contesto a intenção do governo de melhorar cada vez mais o salário mínimo. Muito pelo contrário, mas não posso concordar que para isso seja necessário sacrificar os aposentados detentores de benefícios com valores superiores que, para o Governo, estão sendo considerados como dispendiosos e nocivos ao sistema.

Não culpo somente o atual governo. O desrespeito com a classe dos aposentados no Brasil é uma tradição e de difícil correção. Porém, o atual governo vem demonstrando uma forte discriminação para com este grupo de beneficiários, achatando suas remunerações de forma impiedosa.

Para culminar toda esta instabilidade e injustiça, em 1982, prevendo uma defasagem entre meu benefício e o salário que estaria a ganhar por ocasião de minha aposentadoria, fiz um plano de previdência privado, o Aerus, que acabou sendo sucumbido em 2006, com a quebra da Varig, mesmo supervisionado pelo Governo Federal. Mas isso é uma outra história, porém não menos importante quanto a questão do INSS.

Impressionante, não é mesmo? Eu, na tentativa de me cercar de todas as garantias para assegurar uma vida digna na velhice, arcando com altos custos de longos e suados anos de contribuições para ambas as previdências, partindo até mesmo para o sacrifício de resistir aos apelos do consumismo, do lazer, enfim, dos prazeres da vida, me vejo neste momento derrotado e devido a idade, sem chance de reverter esta triste realidade. Nada consegui apesar de todo meu esforço. Que país é este, que não reconhece tais sacrifícios, dando-nos a entender que não vale a pena investir em aposentadoria, quer oficial ou privada, se no momento em que mais precisamos, temos o benefício oficial cada vez mais depreciado e o particular, no meu caso, usurpado? E tudo isso se passando aos olhos das autoridades competentes, sem que percebamos objetivamente algum esboço de reação à nosso favor.

Lembro a quem possa se sensibilizar com o nosso abandono que mesmo aposentados continuamos a ser cidadãos brasileiros e, portanto, ainda merecedores de respeito."

Aos Exmos. Senadores, representantes legítimos de toda sociedade brasileira, para os quais encaminho neste momento este relato e que podem de fato reverter esta indiferença, peço como esperança de dias melhores a aprovação na íntegra do PL 58/2003 de autoria do Senador Paulo Paim.

Ao Exmo. Senador Mário Couto, um grande entusiasta do projeto de lei que se propôs a iniciar uma vigília em prol desta luta, o meu agradecimento pela sensibilidade e reconhecimento.

Espero que forças contrárias, como dos Fundos de Pensão, poderosas instituições, não interfiram na decisão de fazer da Previdência Oficial (INSS) um meio de sustento digno para o aposentado.

Sinceros agradecimentos,

Jorge Wilson da RochaVillarinho

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